quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Palha de Aço

Certa vez eu conheci um palhaço tapado

Meio Triste meio acuado

Um ser, um tanto quanto peculiar

E não se deixava pela vida levar

Era porco e fracassado

Mas incrivelmente engraçado

Tinha umas piadas sobre loiras e putas

Que não agradavam muito as mulheres mais astutas

Elas diziam: "esse palhaço é machista!"

Mas tudo que ele queria era ser um bom humorista

E de fato, ele já era a piada feita

Tinha uma barriga pouco perfeita

Um tanto quanto enorme

Um nariz enorme que tampava sua face disforme

Andava torto e corria pouco

E quase não tinha voz, na verdade era rouco

Um Palhaço retardado que não tinha nada

Não tinha nem piada

Pois o que ele falava sobre loiras e putas eram verdades

Verdades quase absolutas que não passavam de vaidades

Sim o palhaço era vaidoso

Tão vaidoso que quando passava propaganda de perfume ele ficava curioso

Mas nunca foi bonito nem atraente

Seu cabelo nunca conheceu um pente

E pra piorar o palhaço era chato

Chato que nem um pato

tão insuportável que ninguém gostava dele de fato

Nem eu gostei e briguei sem embaraço

E como não tenho paciência de aço

Sem dó espanquei o palhaço!


Renato Villas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Inspiração

Hoje me faltou inspiração pra ser um palhaço.

Hoje tá me faltando um pouco de nostalgia, pra lembrar de coisas das quais eu ria quando criança, e que nem me fazem cócegas mais.

Hoje me falta tempo, pra dar tempo aos meus pensamentos.

Hoje me falta um pouco de coragem, pra sacanear a pobre velha caquética ou a criança esfomeada, me falta cara de pau pra reduzir a baixo de zero quem me acha um zero a esquerda.

Hoje eu to cansado, mas meu cansaço se resume a piadas mal feitas, mal contadas, mal interpretadas e mal entendidas

Piadas não são tratados, não são constituições (apesar de algumas constituições serem tratadas como piadas) piadas são a observação desesperada de vida de alguém que se cansou de chorar, piadas são resumidas ao fatídico blefe ao qual se encontra a humanidade, são a auto-sacanagem, a autocrítica, o próprio espelho.

Eu queria um dia mostrar a todas as pessoas e fazê-las entender de uma vez por todas, que eu não sou um comediante, eu sou um observador, comediantes são vocês, vocês que tem medo, que amam, que quebram a cara, que choram atoa, que tem muito medo mesmo, que tem inveja, que cultuam o próprio corpo e deixam a mente no limbo das músicas insuportáveis, vocês que brigam, que matam, que tentam brincar de Deus. Mas quem brinca de Deus mesmo sou eu, sim, eu brinco de ser comediante assim como Ele, Deus, o maior comediante da história, que por conta do tédio e de um súbito momento de inspiração juntou com o Diabo e fez a divina comédia, o céu e a terra, as maiores piadas que nunca serão superadas nem entendidas, nem interpretadas, e muito menos correspondidas.

Renato Villas